2007-04-30


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Fez-se hoje a manhã de cópias e a tarde com o algarismo oito.



E ontem, em El Salvador, a terra voltou a tremer, destruindo aldeias e cidades que tinham sido poupadas pelo terramoto do mês passado.

Também na Indonésia, a escala de Richter registou uma intensidade de quase sete pontos.

A fúria tectónica fala mais alto.

Alhos Vedros
01/02/14
Luís F. de A. Gomes

2007-04-29


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E eu sou um pai cheio de sorte.

Quando cheguei a casa, pelo almoço, fui recebido pela Margarida prenhe da excitação de me transmitir uma novidade.
“-Sabes pai, eu hoje tive uma pequena dificuldade na escola, mas agora já está tudo bem.” –Enquanto a elevava, pelas axilas, ao nível do abraço. “-Hoje aprendemos o número oito e ao princípio eu tive assim uma dificuldadezinha e fazia um bocadinho mal o número, mas agora já faço bem, pois tenho estado a tentar aperfeiçoar-me e já consigo fazer uns oito bonitos.” –E mostrou-me uma folha cheia de exemplares daquele algarismo.


Pois foi esse o tema da aula de hoje.



A maior parte do genoma humano está descodificado e o que ressalta é que as diferenças genéticas não nos permitem sustentar a ideia de raça.



Nós, humanos, que pela quinta vez fizemos chegar um engenho a um outro corpo cósmico diferente, desta vez para pousar uma sonda no asteróide Eros, uma rocha tão velha como o sistema solar.



Hoje fui a Pavia de manhã e regressei a tempo de almoçar em casa.

O Alentejo prepara-se para se atapetar de cores até que a vista se canse.



A Margarida trocou-se de bicadas com a Cátia Sofia. Segundo a sua versão, a colega picou a Ana Lúcia com o lápis de carvão e para que ela sentisse o que acabara de fazer, a minha filha achou por bem responder em duplicado.
Como é natural eu fiz-lhe ver as alternativas que teriam permitido uma atitude mais sensata e tanto ou mais incisiva. De resto, a Professora repreendeu-a.
Mas a choraminguice que acompanhou a narrativa vinha-lhe do facto de achar injusto que a primeira prevaricadora tivesse sido apresentada como a única vítima do desacato. Na sua óptica, também aquela teria merecido castigo e nem chegou a pedir desculpa à única menina que não fizera mal algum.


Fiquemos por aqui.

Alhos Vedros
01/02/13
Luís F. de A. Gomes

2007-04-28


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

AO SOM DE JONH SURMAN

Ai que saudades que eu tinha de um dia como este, solarengo e afagante, ainda que as árvores permaneçam com os seus dedos de pau apontados ao azul que se vê para lá dos intervalos que as folhas apagarão.
Até os pássaros voltaram à conversa, indiferentes a que lhes escutemos as trivialidades.

E o fim da tarde, cheio de mesclas rosadas no céu espelhado no esteiro, com aves voando alto, só para dizerem que estamos aqui.


No que me toca foi uma excelente continuação para dois doas de repouso e devaneio, partilhando a companhia da família em torno do doce fluir de quem não tem horas marcadas.



Ontem fomos ao cinema ver “O Náufrago”, com Tom Hanks no papel principal.
A história fez-me lembrar William Golding, em “O Deus das Moscas”, obra em que se reflecte sobre o fio estreito que separa a civilização da barbárie.
É que se quisermos, também neste filme podemos ver uma alegoria da humanidade, embora para vermos o princípio da civilização que só foi possível pela força de vontade indomável e nunca desistente dos homens.


Quem tenha lido algum dos meus livros de ficção sabe que eu gosto deste género de narrativas que sem a deselegância de nos imporem um ponto de vista e muito menos o pretensiosismo –amiúde tão hilariante- de nos darem receita para isto e para aquilo, muito simplesmente se limitam a apresentar dados que nos permitam a reformulação de perguntas, a partir das quais os leitores, se assim o desejarem, tirarão as ilações possíveis.


Ora atendendo a que tecnicamente está perfeito e as interpretações dificilmente poderiam ser melhores, especialmente no que diz respeito ao primeiro actor, numa escala de zero a vinte, dezoito valores.



Pois em Cabo Verde a democracia enraíza-se.

Deus seja louvado.


E o PAICV que regressou ao governo pela vitória nas últimas legislativas, tem agora a possibilidade de ver uma das suas figuras históricas, Pedro Pires, na presidência da república; parte para o escrutínio com um ponto de vantagem sobre o actual presidente.



E não é que há um movimento de cidadão para a recandidatura de Nuno Cardoso?

Hum, aqui há gato.
Vamos a ver e lá andará o mundo da a mexer os cordelinhos.
A verdade é que tudo indica que não terão Fernando Gomes, lui méme, que, esse sim, seria a escolha acertada. Em face disso, não seria mau de todo ter alguém de confiança.



Hoje o dia foi preenchido com exercícios vários e duas fichas a respeito da nova palavra e que se destinaram ao Livro Dinâmico.



E eu passei a tarde de Sábado entretido com um puzzle de mil peças de uma imagem de Amesterdão.
Vamos ver quanto tempo demoro a completá-lo.



Curiosamente, no fim-de-semana em que o “Público” nos deu a conhecer um novo livro que põe a nu as relações da IBM com as mais altas esferas do Terceiro Reich, por via de negócios que forneceram o suporte tecnológico para a organização administrativa da Solução Final, em Belmonte, Deus seja louvado, os judeus vão finalmente repousar em paz, cemitério próprio abençoado com pedaços de solo israelita, sem terem que enterrar os seus mortos segundo ritos que não são os seus e que lhes profanam a dignidade da sua envolvência com a Divindade.

O caso IBM já era conhecido, tratou-se do fornecimento de máquinas de processamento de dados –de que existe um exemplar no Museu do Holocausto, em Nova Yorque- que serviram tão só para a elaboração das listas de judeus alemães a arregimentar e enviar para o extermínio.
Bem, estamos a tratar do indizível.
Mas devemos ter o discernimento suficiente para compreendermos que o tipo de implicações de que estamos a falar, só assim foram entendidas à posteriori, depois da derrota nazi, pois, ao tempo em que aconteceram, a Alemanha era um país com uma economia perfeitamente enquadrada no contexto das relações internacionais. A IBM não terá sido o único caso, com certeza. Tenhamos em conta que a denúncia da repressão e da violência do regime chegou a ser vista, na velha Albion, como actos de traição à pátria.
Não tenho dúvida que é bom que se denunciem as tramas da época mais negra da Humanidade.
No entanto, se bem que aquela empresa possa dever, em boa parte, a sua grandeza a tão sinistro comprador e, pelo grau de envolvimento, pagar por isso, não podemos esquecer que as populações viram os judeus desaparecerem da casa ao lado e conheciam os éditos e as listagens em que se identificara quem deveria agrupar-se para partir e todos sabiam que o destino eram os campos de concentração.
É incontornável que se compreenda, mas também é importante não perder de vista o perdão que só ganha mais força de exemplo justamente por a dor ser tão funda e intensa.

Afinal, tão estranho mistério, foi a Shoah que espoletou a recusa formal do racismo, o mesmo é dizer, o reconhecimento da igual natureza de todos os humanos.


Quanto ao cemitério é um bonito evento para os judeus de Belmonte e de todo o mundo e eu só desejo que seja um sinal de uma convivência que da tolerância seja capaz de urdir a aceitação de diferentes expressões religiosas.



E agora vou aproveitar o gozo de uma noite estrelada.
Olha uma amêndoa alaranjada a subir pelas colinas de prédios em pé.

Este Inverno ainda não lhe tinha saboreado a cor.

Alhos Vedros
01/02/12


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Golding, William- O DEUS DAS MOSCAS
Tradução e Prefácio de Luís de Sousa Rebelo
Veja (1ª. Edição), Lisboa, 1997

2007-04-27


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Desde ontem que a Margarida anda cogitando nas novas possibilidades de que dispõe para escrever palavras.
Amiúde sai-se deste jeito:
“-Ó pai, eu agora já posso escrever a palavra caneta, não posso?”



Vejo-me forçado a uma correcção.
Afinal, as alterações ao nosso código penal de que se fala em torno dos crimes contra a humanidade, decorrem no âmbito das nossas obrigações no contexto das Nações Unidas e não da União Europeia como aqui escrevi há alguns dias.
Trata-se da criação de um Tribunal Penal Internacional para julgar crimes que se enquadrem naquela classificação.

Independentemente daqueles argumentos –muito inteligentes, não tenhamos dúvidas- que desdenham a iniciativa pelo facto de não vermos os vencedores no banco dos réus, de que a Rússia que massacra na Tchetchénia, é o exemplo mais utilizado, embora outros hajam, o certo é que a iniciativa me parece do maior interesse. Com ela se lança um primeiro pilar daquilo que poderá vir a ser uma ordem jurídica mundial que penalize não só este género de criminalidade, mas também outra. Se pensarmos que uma civilização planetária que se queira fundamentar na democracia não poderá subsistir fora do enquadramento do estado de direito…
E também não deixa de ser risível dizer-se que tal tribunal carece de polícia… Provavelmente seria esta uma das primeiras instituições a ser criada e depois actuaria na colaboração com os corpos policiais de cada país.
Enfim…



Contudo, continuo a pensar que não seria necessário agravar-se a pena nacional máxima para a prisão perpétua.
Havia sempre a alternativa de em cada país se aplicar a máxima penalidade aí vigente.



Hoje os alunos continuaram com exercícios em torno da palavra casa.

O trabalho doméstico traz a novidade das palavras cruzadas.



Há portugueses raptados em Cabinda, por via dos quais, a FLEC-FLAC pretende pressionar Portugal para que participe no processo de independência de um território que nunca foi angolano e que só no século dezanove passou a estar sob domínio luso na forma de um protectorado.



E lá vai o primeiro laboratório a caminho da estação espacial internacional.



Ai que bem sabe a perspectiva do descanso.

Alhos Vedros
01/02/09
Luís F. de A. Gomes

2007-04-26

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Não deixa de ser curioso verificar que, num certo sentido, a globalização não passa ainda de uma figura retórica. Se bem que a economia global e os mercados mundiais –mesmo admitindo que apenas o fazem indirectamente- condicionem as mais recônditas comunidades de caçadores recolectores ou de agricultura de subsistência e ainda que possamos ter acesso à rede mundial de satélites praticamente em qualquer lugar da superfície terrestre, é por enquanto um facto que a grande maioria das populações não têm qualquer possibilidade de interagir no tal mundo globalizado. Para já, a globalização traduz-se no movimento de mercadorias e informações e, com maiores restrições, também das pessoas ou de pessoas, para ser mais exacto. Mas os resultados existem e ainda não podemos comprar o que necessitamos como se o fizéssemos num único país.
Seja como for, se não estoirarmos o planeta e nos não remetermos para o conteúdo de um museu que ninguém veria, será com essa realidade que os nossos filhos crescerão e é é muito provável que um número crescente, entre eles, tenha disso consciência e o considere enquanto factor para a definição de mundivisões.
Inevitavelmente há muitos adversários do fenómeno e por motivo variados e contraditórios. Desde aqueles que em ele vêm o domínio dos mais ricos sobre os mais pobres e, através disso, fontes de diversificados desequilíbrios tanto de ordem ambiental como social e cultural, aos protestos contra a concorrência desleal dos salários mais baixos de certos países em desenvolvimento, falam alto as vozes que se manifestam contra, por exemplo, o comércio livre entre as nações.

Acontece é que naturalmente há o outro lado da cortina se tivermos curiosidade e quisermos levantá-la.
Isto para nem sustentar que não devemos ter receios de um processo cujas raízes se afundam pelos séculos. Mas adiante.
Temos pela frente a primeira oportunidade de, com verosimilhança, nos dizermos naturais da Terra e de termos por nação a humanidade. E os naturais da Terra podem querer ir para qualquer parte. Será esse o mundo em que a globalização para sempre e a todos os níveis se separará da retórica.



Free jazz e trovoada distante.
Nos entrementes dos relâmpagos, há manchas roxas nas nuvens que uma invisível Lua Cheia acende.



Estou muito satisfeito com o horário escolar da Margarida.
A pausa para o almoço deixa-lhe tempo para brincar, primeiro em casa e depois no recreio, com as suas amiguinhas e estou convencido que isso é um excelente tónico para o seu bem estar anímico e psicológico e, consequentemente, para o seu ar alegre e –ainda que ciente das suas responsabilidades que cumpre zelosamente- vida despreocupada.

É uma ternura chegar a casa e ver o piolho brincando, no escritório ou na sala, agora que vão longe os dias em que a agitação provocada pelo impacto do novo papel e obrigações a remetiam para a porta, mal me adivinhava os passos.

E nestas últimas rotações, tenho verificado que ela já incorporou a escrita nas suas brincadeiras.
A minha secretária está cheia desses testemunhos.



Não tenhamos dúvidas nem vergonha de o dizer.
Neste problema do fisco há perseguição ao Benfica e a comunicação social controlada faz eco disso.
Pina Moura sabe que não pode facilitar a vida àquele clube. Há muito quem deseje ver aquela SAD eternamente adiada.



Hoje de manhã os alunos fizeram cópias e exercícios de leitura e identificação de sílabas e à tarde realizaram fichas de matemática, terminando o dia com desenhos em papel quadriculado.



Na Rússia há uma nova lei para os partidos políticos que para se constituírem, a partir daqui, dependerão de autorização superior. Para já, com os novos condicionalismos impostos, a maioria das cento e tantas organizações partidárias existentes não serão legalizadas.

Que forma terá a nova ditadura?

Alhos Vedros
01/02/07
Luís F. de A. Gomes


Com esta imagem terminamos a pequena série de fotos dedicada à encantadora Vila de Monsaraz e que dedicamos a um simpático Fantasma que gosta da Liberdade, como aquela que estes espaços belos e largos nos sugerem.

Estas são e serão sempre terras dos cravos vermelhos.

2007-04-25

VINTE E CINCO DE ABRIL SEMPRE! FASCISMO NUNCA MAIS!

UMA AULA DIFERENTE
À memória do
Capitão Salgueiro Maia

-Bem meninos, pelo sumário já compreenderam qu vão ter uma aula diferente daquilo que é habitual. É do vosso conhecimento que amanhã passará o vigésimo quarto aniversário sobre o dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos setenta e quatro e o grupo de História decidiu organizar uma exposição de fotografias tiradas nessa ocasião. Em princípio poderiam visitar a exposição com o vosso Professor de História na aula que terão após o almoço. Provavelmente, o meu colega seria a pessoa mais indicada para lhes dar todas as explicações necessárias a respeito daqueles acontecimentos e para lhes fazer o enquadramento do era o nosso país nesse passado, para os mais velhos ainda tão recente mas, para vós, simultaneamente, muito distante. Neste sentido, talvez ficassem melhor esclarecidos pelo trabalho que eventualmente poderiam desenvolver nessa outra disciplina. Eu não ponho isso em dúvida e não quero estar aqui a pretender que, de qualquer forma, possa substituir o meu colega ao nível de que falei. No entanto, quer se concorde ou não com isso, está no espírito das leis que regulamentam o actual sistema de ensino em que vocês estão inseridos, que os professores, para além do tradicional papel de ensinarem determinadas matérias, devem contribuir para a educação dos alunos enquanto pessoas. Eu acho isso muito discutível, sou mesmo da opinião que é na família a que pertence que cada um de nós deve receber os princípios que nos devem conduzir as atitudes e comportamentos bem como a formação dos nossos caracteres. A nós, professores, competirá não atentar contra isso e nada mais. Já ao nível da educação cívica, isto é, da educação para uma vida em comunidade que parta do respeito pelo outro, já a esse nível me parece que é nosso dever ir um pouco mais longe e, pelo nosso comportamento, podermos servir de modelo para uma educação cívica exemplar. Pelo menos neste aspecto, também eu concordo que os professores têm alguma responsabilidade ao nível da educação dos alunos; responsabilidade pelo exemplo de bom senso, mas igualmente pela tolerância e respeito pelas opiniões alheias. É certo que nem sempre isso acontece na realidade, mas justamente por isso eu ponho em causa o papel dos professores enquanto educadores. Mas adiante. Seja como for, é por causa dessa interpretação que actualmente se faz dos nossos deveres que eu, na qualidade de vosso director de turma me proponho a acompanhar-vos n visita a esta exposição sobre o que se passou em Lisboa no dia vinte e cinco de Abril de há vinte e quatro anos.
E é importante que vocês ganhem consciência daquilo que sucedeu para que possais perceber a diferença fundamental que há entre vós e os vossos pais. É que eles cresceram num país em que aos homens não era deixado espaço para poderem atingir uma dignidade total. Com efeito, no regime político que então vigorava estava interdito ao comum dos mortais manifestarem as suas ideias e opiniões sobre a vida social e política do país. Não era que não existissem pessoas que falavam desses assuntos. É claro que existiam, até pelo simples facto de haver imprensa e órgãos de comunicação audio-visual. Acontece é que a discordância ou seja, aqueles que manifestassem pontos de vista contrários àquilo que estava estabelecido, isso estava sujeito à repressão e ao silêncio. A oposição política, então, essa estava condenada à prisão e casos houve em que os protagonistas foram pura e simplesmente assassinados, como aconteceu com o senhor general Humberto Delgado que foi candidato à presidência da república há mais de quarenta anos. Ora acontece que isso era assim porque os homens do poder partiam do pressuposto que só a uns quantos era reconhecida a capacidade para decidirem o que era melhor e pior para a sociedade portuguesa, entre eles cabendo a um predestinado o papel de chefe supremo que melhor que todos os outros saberia interpretar aquilo que seriam os sentimentos e conveniências do povo. Pois isso é a tirania e em última instância ela acaba sempre por proteger os poderosos e, ao contrário, por deixar os mais fracos à mercê da vontade e dos caprichos daqueles. Nessa dimensão, meus meninos, há sempre a possibilidade de alguém ver a sua dignidade rebaixada sem que se possa defender. Daí que a tirania seja incompatível com a dignidade humana. Imaginem o que sentiriam os vossos pais e avós quando eram desapossados do seu ganha pão e reduzidos à miséria pelos salários que recebiam, sabendo que os protestos visando alterar essa situação eram pagos com bastonadas e noites na cadeia.
A mim ensinaram-me que todos os homens são filhos de Deus e por isso mesmo igualmente detentores de uma dignidade incomensurável e inalienável, a qual, a não ser o próprio por via das suas más acções, ninguém pode diminuir ou espezinhar sob pena de atentar contra a própria divindade. Mas também podemos dizer que a vida humana é um bem insubstituível e que todos os homens, à partida, por serem membros da mesma espécie, têm um certo número de direitos igual para todos. Em qualquer destas interpretações se reconhece a dignidade dos homens e assim poderemos justificar a rejeição da tirania.
E foi contra a tirania que lutaram os homens que ides ver. Pela vossa parte, podeis dizer que eles desenvolveram as condições que hoje em dia nos permitem aspirar a uma vida digna. São homens que merecem todo o nosso respeito e admiração e, na maior parte dos casos, nada quiseram para si. Perante esses, meninos, que arriscaram as suas vidas e seguranças pessoais e dos seus, perante esses nos devemos ajoelhar em sinal de gratidão e admiração. Quer se tenha ou não gostado daquilo que se passou a seguir àquele dia, quer se concorde ou não com isso, uma coisa devemos aceitar, é que aqueles homens, soldados anónimos e um capitão que preferiu a pacatez do anonimato, esses foram os heróis que nos devolveram a liberdade que é a única maneira de vivermos que é compatível com a dignidade humana. A esses, o nosso carinho e reconhecimento, deve fazer-nos tirar-lhes o chapéu em sinal de máximo respeito.
Era isto que lhes queria dizer antes de sairmos para vermos as imagens que, espero eu, possam despertar a vossa curiosidade. Vamos lá.

Portel, 24de Abril de 1998

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ariel Sharon será o futuro Primeiro-Ministro israelita.

O estado de guerra permanecerá na agenda política e social dos israelitas.
Em vez do pão e do saber, da procura e da partilha que os desmascaria, terão os tiranos e caciques, entre os árabes, o inimigo de que necessitam para subjugarem a miséria que aos seus povos impõem e na qual alimentam a magnificência dos seus palácios.

Brevemente haverá uma nova operação de Saddam Hussein. Estejamos atentos. Até porque o déspota terá que medir a determinação da nova administração da Casa Branca e, para tanto, nada melhor que bater no seu principal aliado, logo agora que, no Ocidente, passa o discurso –fundamentado em factos, diga-se com justiça- que identifica Ariel Sharon com firmezas belicistas.


E a humanidade continuará adiada.



Urge inventar um automóvel –ou qualquer afim- não poluente; de preferência, posto em movimento por energias renováveis.
Só então será possível encarar de forma rigorosa e vigorosamente persistente a luta contra a pobreza a nível global, sem a qual, a vida, tal como a conhecemos, sucumbirá com a explosão ou implosão do capitalismo que arrastará as actuais atmosfera e biosfera.

Espera-nos um mundo policiado de subtis tiranias que hão-de governar cidades sub-aquáticas.

Seria uma tragédia se os terráqueos que emigrarão para as estrelas consigo levassem o hábito da ordem e da obediência cegas.
Não estaria à altura da espécie em que, alhures, se foi inventando as ciências.



Hoje os alunos fizeram cópias durante a parte da manhã e depois algumas fichas do livro de Matemática, findas as quais, já no turno vespertino, os mais despachados fizeram um desenho.


E quando a fui buscar a Margarida presenteou-me com uma visita guiada pela sua sala de aula e, claro está, pelos seus trabalhos.



Continuaremos no ciclo do vendaval.
Ao fim da manhã, ao volante do meu carro, tive a sensação de fazer o percurso entre o Barreiro e Alhos Vedros de barco.


Um troço do IP5 desabou.

Alhos Vedros
01/02/06
Luís F. de A. Gomes

2007-04-24


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Margarida lá teve a sua festa na sala de aula.

O pai tratou de trazer o bolo que os sumos já a mãe os comprara, não contando com a meia folga de sexta-feira, e dessa forma mais uma vez escutou os parabéns.


Abençoados sete aninhos.



É curioso como ela aprende as matérias com naturalidade e, aparentemente, sem dificuldades.

Bem, o método usado pela Professora parece facilitar a aprendizagem. Com efeito, os alunos dão um determinado vocábulo e aí identificam e individualizam as respectivas partículas mínimas o que, sob o ciclo da repetição, certamente acabará por propiciar o domínio de tais conhecimentos.
Mas a verdade é que a miúda se esforça, não só por espontaneamente fazer todos os trabalhos que lhe são propostos, também pela livre iniciativa de fazer cópias e pedir que lhe façamos ditados e não deixa de ser significativo que tenha incorporado o desenhar nas suas brincadeiras.

E já consegue escrever pequenas frases que inventa.



Em Israel desenha-se uma vitória de Ariel Sharon.

Os palestinianos em particular e os seus primos árabes, em geral, ainda não estão em condições de fazerem a paz.



Esta manhã os alunos fizeram cópias e leituras com as palavras aprendidas a partir do leque. À tarde, antes da festa, fizeram exercícios sobre o número sete.

E não faltou o trabalho para casa



Sopra um vento que indicia tempestade.

Alhos Vedros
01/02/05
Luís F. de A. Gomes

2007-04-23


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

ENCONTRO IMEDIATO DO 3º. GRAU COM UMA ANDORINHA

Fim-de-semana de repouso e passeio, na forma de prenda de anos para a Margarida, é bom de ver que nesta sexta-feira fez sete aninhos.


E eu, particularmente, ainda tive ensejo de acabar a revisão a “Um Acto de Cidadania”.


Ontem fomos passear para o Museu de Ciência e ao fim da tarde vimos a exposição “Os Músicos Invisíveis”, sobre mecanismos musicais desde o último quartel do século dezanove até à actualidade.

Espantou-me a quantidade de inventos para mecanicamente produzirem música através de certos e determinados instrumentos, com especial incidência nos teclados.

E não deixou de ser curioso verificar que a programação tem ali antepassados improváveis.

Foi uma visita guiada de mais ou menos uma hora que a todos fez viajar pelos encantos melódicos dos mais ricos de uma civilização relativamente à qual já nos encontrávamos à distância de outro mundo.


A tia Fátima e o Quim passaram o fim-de-semana connosco e encontrámo-nos no Parque das Nações, após o almoço.

Jantámos no Barreiro um saboroso fondue de picanha grelhada e depois de um passeio na beira-rio e conversa com as luzes de Lisboa ao fundo, demandámos o lar para dar guarida ao sono.



E hoje voltou a chuva, com longos entrementes de nuvens banhadas pelo Sol.

Mas eu confirmo o encontro imediato de terceiro grau com as andorinhas. Eu vi-as por sobre os telhados circunvizinhos.

Provavelmente, a minha observação do outro dia estava certa. Seja como for, vi, esta tarde, as primeiras andorinhas.

Alhos Vedros
01/02/04
Luís F. de A. Gomes

2007-04-22


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

PARABÉNS MARGARIDA

Nestes dias tenho-me deliciado com uma leitura bastante interessante sobre a história do capitalismo.

Para já, nele fiquei a saber que, no princípio do século dezanove, foram as populações mais pobres que se mostraram adeptas da liberalização do comércio de produtos agrícolas a fim de obterem preços mais baixos para os alimentos (1).

Em contrapartida, fica claro como os capitalismos nascentes requereram e usaram o papel proteccionismo do estado para se afirmarem e crescerem.



Esta madrugada, a Margarida fez sete anos de idade.


Eu sou um homem com sorte por ter uma filha assim que tanto encanto me dá.
Não é, para mim, uma prenda de anos, é uma prenda de existência.


Coincidência engraçada, no dia do seu aniversário teve uma folga inesperada no turno da tarde.



No decurso das actividades, os alunos fizeram um ditado sobre as variantes da nova palavra e depois exercitaram a pintura com as cores e a forma da bandeira nacional.



Não acho bem que se altere a constituição para que se adapte a legislação estrangeira que nos pode afectar pela assinatura de tratados no âmbito da União Europeia. Abrir-se-á um precedente e não sei se a partir daí não poderão ocorrer posteriores actualizações automáticas que, desse modo, adeqúem o nosso quadro penal aos contextos resultantes das nossas relações exteriores. Eventualmente, daí poderão soprar ventos desagradáveis. Mas também não me parece lisonjeiro que se aceite a pena de prisão perpétua que há muito deixou de fazer parte da nossa tradição que, ao contrário, tem aceite que depois do cumprimento das penas, há sempre a hipótese de regeneração pelo que deve ser possível uma segunda oportunidade que, manifestamente, uma penalização para a vida contradiz e inviabiliza. Por mim, penso que seria preferível a nossa leitura destes problemas.

E o pior é que tudo isto foi promovido pelos homens do governo e do partido que o suporta, sorrateiramente, sem debate público.



Alan Greenspan alerta para os perigos que podem advir da quebra de crescimento da economia dos Estados Unidos da América. Para já, o desemprego aumentou para os quatro por cento.
Como primeiro paliativo, as taxas de juro vão descer meio por cento.


Pelo efeito de onda, há suspiros na construção e em muitas famílias portuguesas.



Jantámos em casa dos meus pais e o meu sobrinho mais novo fez-nos companhia.
A Margarida estava encantada e para os parabéns teve o presente da presença da Tia Engrácia e do Tio António.

E agradeceu-nos com uma pequena cantiga que rematou as palmas mesmo antes de apagar as velas.



A noite está fria mas estrelada.
Como há sete anos atrás, também hoje me sinto a voar pelo espaço.

__________
(1) Vindt, Gérard, p. 48
500 ANOS DE CAPITALISMO – A MUNDIALIZAÇÃO DE VASCO DA GAMA A BILL GATES

Alhos Vedros
01/02/02
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BILBIOGRÁFICA

Vindt, Gérard- 500 DE CAPITALISMO – A MUNDIALIZAÇÃO DE VASCO DA
GAMA A BIL GATES
Tradução de Isabel Cardeal
Revisão técnica de Jorge Miguel Pedreira
Círculo de Leitores, Lisboa, 2000

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

AFINAL AINDA NÃOCHEGARAM AS ANDORINHAS

Esta tarde cheguei a casa tolhido de cansaço, cheio de vontade de me estender no sofá e simplesmente repousar.
Mas não se pode fugir às responsabilidades e devemos ter a presença de espírito para superarmos os escolhos da fadiga, ao compreendermos que há tarefas incontornáveis pelo que resta saber organizar as coisas de forma que possamos minimizar os esforços e ainda ao mantermos um canal aberto para aceitarmos que há riscos de trabalhos suplementares que temos que correr no decurso do crescimento dos filhos se quisermos respeitar-lhes a liberdade necessária para que eles se vão fazendo gente.
Por muito que nos custe, a paternidade pressupõe que saibamos conviver com estes imprevistos.

Foi o que aconteceu ainda há pouco, quando a Matilde sujou as mãos com as aguarelas e, no intuito de resolver o problema, acabou por estender o desarranjo a uma das casas de banho.

E o pai lá teve que saber resolver a situação, explicando como ela deveria ter feito e sem exaltações que, para além de desnecessárias, em nada contribuiriam para a limpeza do lavatório.



Já o mesmo não se pode dizer da algazarra que anda no ar em torno do fim da parceria que chegou a estar apalavrada entre a TAP e a Swiss Air que, por via disso, beneficiou da logística dos portugueses em vários aeroportos internacionais e teve ainda o acesso à carteira de clientes da transportadora nacional.
Espanta é que nunca tivesse havido um contrato assinado e tudo tenha ficado pelas negociações entre administrações.

E agora os suíços retiram-se e por cá chuchasse no dedo, com milhões e milhões de dívida e uma situação em que não há dinheiro para pagar salários.

Mas vamos construir um novo aeroporto.



Hoje os alunos aprenderam um novo número, o sete, e o dia foi-lhe dedicado com a solução de fichas e exercícios e ainda pelo conteúdo do trabalho para casa.



Mas na ribalta estão as salas de chuto, espaços onde os toxicodependentes poderão usufruir de condições higiénicas para se injectarem em segurança.

Confesso que tenho algumas reservas em relação à medida, desde logo pelo acto de o consumo de drogas ser proibido e punido pela lei.

Então o estado vai abrir casa para que se utilizem substancias que ele próprio classifica como ilegais?



Afinal ainda não vi andorinhas, o que, no caso, melhor seria dizer que ainda não ouvi qualquer daquelas avezinhas.

Neste último Sábado, enquanto esperava a Luísa, apercebi-me que a passarada que escutei, numa das manhãs da semana anterior, seriam, provavelmente, pardais que se aproveitaram dos ninhos abandonados para se protegerem da chuva.
O cero é que nessa tarde, aquelas casinhas de lama estavam desertas.



Mas com o Sol destes dias, há plátanos que se vão enchendo de penugem.
Estamos a meio caminho da Primavera.

Alhos Vedros
01/02/01
Luís F. de A. Gomes

2007-04-20


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje a cultura humana ficou enriquecida com um contributo ou aquilo que pode vir a ser um contributo para um estado de direito em termos planetários.
Num julgamento livre e justo e num país independente, a Escócia, foi dada como provada a autoria do crime de atentado a um avião que vitimou mais de duas centenas de pessoas; foi o réu um ex-agente de um dos bureaus dos serviços de inteligência da Líbia A pena será num mínimo de vinte anos ou mesmo de prisão perpétua.


O terrorismo internacional encontrou assim a sua primeira barreira legal.



Os alunos fizeram uma cópia e exercícios sobre a nova palavra e ainda procederam à leitura e realização de duas fichas para o livro dinâmico.

E lá trouxeram o trabalhinho para casa.



Esta é uma noite dedicada à leitura.

Alhos Vedros
01/01/31
Luís F. de A. Gomes

2007-04-19


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

As pessoas santas nunca chegam a santas.

Não são os sistemas que fazem as pessoas más, tão pouco é o poder que as corrompe, se bem que possamos admitir para consideração os condicionalismos das circunstâncias ou das contingências, se quisermos ser mais graves.

Aqueles que atingem o topo não se alteram por isso, passando a ser mais calculistas ou ambiciosos, por exemplo, mas, inversamente, atingem essas posições por serem indivíduos frios e com vontade de lá chegarem.

A maldade é feita pelos homens, pelas facetas más dos homens.


Não há nada que impeça os participantes da reunião de Davos de serem altruístas, a não ser a natureza de cada um.



E num mundo alagado a norte e a sul, Kostunica chama a atenção para a possibilidade do regresso da guerra com as recentes operações dos independentistas albaneses do Kosovo que querem anexar território propriamente dito sérvio.



Na Índia há sobreviventes sobre os escombros e muitas dificuldades para fazer face ao drama.


E de El Salvador não se fala. Também não temos tempo para chegar a tudo, nem dinheiro, nem ânimo, meu caro.



Hoje os alunos começaram por fazer uma cópia sobre as palavras que ontem aprenderam e depois resolveram uma ficha sobre o vocábulo leque.
Seguiu-se uma espécie de repouso com um trabalho de ilustração em folha quadriculada, a partir da coloração de uma das quadrículas usadas.



As águas começaram a baixar.
Os estragos são avultados e o nosso aviso tão laminar.

Alhos Vedros
01/01/30
Luís F. de A. Gomes

2007-04-18


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

NÃO SE COSPE PARA O CHÃO

Ontem a Terra voltou a tremer na Índia.
O balanço da tragédia fala de vinte mil mortos.



E ainda não foi desta que a associação de pais avançou. Sem que eu possa dizer porquê, ninguém apareceu. Amanhã tentarei apurar o que se possa ter passado. Eu esperei até às dez da noite mas nunca deixei de estar só.

Acontece é que assim acabei por perder a noite inutilmente.
Mas não vamos desistir. Eu sei que estas coisas são sempre difíceis e ainda mais quando se trata do arranque.



Deu para me despedir das “Reflexões De Um Burguês”, do José Rodrigues Miguéis.

Há um certo desequilíbrio nos dois volumes. Artur tem mais carne e osso no primeiro, parecendo-me que no segundo a narrativa balança no quadrante do ensaio em que ele aparece mais ou menos com uma alegoria do ser português.
Texto cáustico, ainda hoje cheio de pertinência e actualidades, é um verdadeiro murro no estômago em muitas das ideias feitas com que as elites têm construído a imagem cultural do país. Da tacanhez mental à arrogância do ignorante, estálá tudo, estão lá muitos dos filhos despeitados e invejosos que por aí pululam.
Não admira pois que o homem tenha sido esquecido dos cânones oficiais, mesmo da actualidade.

Seja como for, esta segunda parte não consegue apagar o aspecto de um ajuste de contas.
Tenho para mim que se o tom do primeiro tivesse sido mantido, englobando o conteúdo complementar, teria sido a literatura a que mais beneficiaria e o nosso encanto seria, naturalmente, maior.


Mas não será isto que me fará deixar de considerá-lo um dos meus mestres.



Hoje os alunos aprenderam uma nova palavra, leque, em torno da qual fizeram uma séria de exercícios e um trabalho para casa. Há tarde houve exercícios de Matemática.



E assim se faz a educação e o começo do civismo.

“-Olha aquele porco a cuspir para o chão.” –Disse a Matilde depois de se cruzar com alguém que assim agira.



Depois da água, Montemor-o-Velho foi elevada à condição de ilha.

Alhos Vedros
01/01/29
Luís F. de A. Gomes

2007-04-17


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Este Inverno está a ser o mais rigoroso deste ciclo de anuidades húmidas.
Os estragos são imensos e elevados, tanto no domínio privado como no público. E pior que tudo, há várias mortes a lamentar que já ultrapassam em muito os dedos de uma mão se não mesmo a dezena.
Ontem foi a vez da baixa coimbrã sofrer o alagamento.
E se um viaduto da A1, sobre o Mondego, começou a ruir, tal veio a verificar-se com uma ponte, em Montemor-o-Velho, sobre o mesmo rio.


No entanto a noite de ontem esteve amena e prazenteira.


Agora a forte ventania que provavelmente arrasta mais um vendaval, por enquanto dispersa as nuvens e deixa que o Sol embeleze as cores da tarde.



Tarde de prazeres domésticos.
As brincadeiras das miúdas e os reparos dos pais.

Neste momento, a Matilde pinta com aguarelas, fazendo uso do cavalete que um dos tios maternos lhe ofereceu pelo Natal.



Mas ontem os pais tiveram folga.

Jantámos com a Teresa e o João e ainda o seu irmão mais novo, o Pedro, bem como a respectiva namorada, num simpático restaurante da vizinhança de São Bento.

Para mim foi mais uma noite agradável e repousante com cavaqueio de circunstância e chalaças normais numa roda de amigos.

Um bom elixir para uma semana de trabalho intenso e absorvente.



Na sexta-feira começou a capital cultural europeia em Roterdão.
Será melhor que não façamos comparações com o Porto. A abertura diz tudo; fogo de artificio e Pedro Abrunhosa por cá e Verdi, no ano do centenário da sua morte, indubitavelmente um vulto da cultura europeia –que provavelmente até é, ao contrário do que muito cepticismo admitirá, empiricamente caracterizável- feito presente, como seria de esperar, através de uma ópera, isto para o público de lá. E depois de sabermos que os bilhetes são prioritariamente distribuídos pela população residente, com especial atenção para os estratos mais carenciados e os mais jovens e só na forma de restos por jornalistas e convidados, obviamente entre os holandeses, só podemos sorrir perante a lauta chuva de convites entre a organização portuguesa.


Nem falta o piripiri do ferido orgulho lusitano com a falta de recepção à delegação do Porto Capital Europeia da Cultura que, por meios próprios, se viu forçada a seguir do aeroporto para o hotel e, como se isso não fosse suficiente, ainda foi levada a ver uma película holandesa sem qualquer legendagem em qualquer outra língua.

Daqui resultaram os remoques da Professora Teresa Lago para quem a falta de cooperação, entre as duas cidades, para tão importantes acontecimentos, só pode ser imputada aos naturais do país que foi feito pela graça de Deus e o engenho dos seus.


Verdade verdadinha, continuamos o Lusitanos Vulgaris (1) de que nos fala o sempre esquecido Miguéis.



E não é por acaso que o paradigma empresarial indígena é o Engenheiro Belmiro de Azevedo que aqui há dias falava da necessidade de um governo forte –alguém sabe o que é isso?- e hoje defende em artigo a pertinência da sociedade civil, justamente ele que foi o maior bafejado pelo proteccionismo de que o caso das telecomunicações é o exemplo mais emblemático.



Por agora é tudo e não sei se amanhã terei oportunidade de dar conta deste diário.
Marcamos o primeiro encontro para aquilo que se pretende venha a ser uma comissão de pais para a escola que a Margarida frequenta.

__________
(1) Miguéis, José Rodrigues, p. 73
AS HARMONIAS DO “CANELÃO”
Reflexões De Um Burguês - II

Alhos Vedros
01/01/28
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Miguéis, José Rodrigues- AS HARMONIAS DO “CANELÃO”
Reflexões De Um Burguês – II
Editorial Estampa (2ª. Edição), Lisboa, 1984

2007-04-16

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Deixa-me escorrer no mel dos dias, saborear os trejeitos de luz sobre os contornos da civilização e amparar as fadigas nas nuances do céu, seja ou não para lá de grandes planos de árvores.
Deixa que a alma se enriqueça com os imprevistos destas alegrias que o vai vem de existirmos também comporta, mesmo sob os narizes das nossas indiferenças.

É abrir as janelas
e os olhos
e o coração
ao sereno fluir das horas.

2007-04-15


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Terra tremeu em vários pontos.

Na Índia, um sismo com intensidade seis vírgula seis, na escala de Richter, provocou fortes danos materiais e, em previsão, milhares de mortos.


E agora reparo que a recente desgraça em El Salvador rapidamente abandonou os espaços mediáticos deste cantinho à beira-mar plantado.



Ontem à noite o cansaço falou tão alto que eu me estendi no sofá e se dormitei ao longo das notícias do canal dois, o mesmo não aconteceu com um programa que, creio, se lhe seguiu e que consistiu numa conversa entre várias personalidades em torno de um caso recente, a saber, a ocupação de uma casa de banho da RTP por parte de um homem que, em tempos, foi gravemente prejudicado por uma reportagem apresentada por aquela estação. Episódio rocambolesco que se estendeu por oito horas e que gerou interrupções noticiosas cheias de erros e sensacionalismo, ajuntamento popular na fronteira da área de segurança imposta pelas forças policiais que também contribuíram com o seu vai vem de sirenes entre o local do incidente e os postos de comando. Lá dentro, trancado nuns sanitários, o sujeito, acompanhado por duas mulheres e um par de filhas, em entrevista à SIC via telemóvel, ameaçara suicidar-se com uma explosão que ali provocaria após deixar que os familiares e a amiga deixassem o local. Pois o programa pretendia debater o sucedido e o tratamento que mereceu nos órgãos de informação. O canal um, por exemplo, interrompeu a programação normal a meio da manhã até que, já na parte da tarde, o homem saiu entre polícias e sob as ovações dos populares que lhe manifestavam compreensão e solidariedade, manteve-se em directo, entrevistando este e aquele, avançando com novidades e explicações, mostrando movimentos e planos da porta sitiada e o frenesim de jornalistas com a gravidade de quem tem a sorte de um furo na vida.

Com a honrosa excepção de Pedro Bacelar que aparentemente se encontrava ali na qualidade de corajoso ex-Governador Civil de Braga e que chamou a atenção para aspectos pertinentes do problema, os rostos eram os do costume e as opiniões conformes a isso.
Contudo, não deixa de ser espantoso que ninguém dos restantes comentadores tenha referido que ali se passou uma ilicitude criminal e que as reportagens não só elevaram o seu fautor à condição de herói –o que bem revela, antes de mais, o estado mental e os valores dos jornalistas responsáveis- como, para aí chegarem, promoveram o mais reaccionários dos discursos populares que assenta na ideia de que a certas pessoas –desresponsabilizadas pela sua condição natural- nada mais resta do que fazer justiça pelas próprias mãos.

Se não estivéssemos com coisas tão sérias, até teria sido cómico escutar tantas dissertações sobre variadíssimas nuances do problema e prenhes de argumentos de cátedra e esquemas directamente saídos das sebentas.


Afinal passou-se ali mais uma novela da vida real que tanto nos coloca no patamar da cultura do SBT (1) de Sílvio Santos e de todos os ratinhos deste mundo.



Algo alegoricamente, as fortes chuvadas voltaram a alagar várias áreas do país.
As barragens descarregaram e o Douro e o Mondego transbordaram.
Há estradas e linhas-férreas cortadas, aluimentos de terras e já se contabilizaram mortes.
Nas planícies ribatejanas, há aldeias que voltaram a correr o risco de ficarem isoladas.

E a nossa tragédia reside no facto de sabermos que, numa próxima invernia em que os céus se desfaçam em tanta água, tudo voltará a repetir-se.



A Margarida lá teve a satisfação de voltar a encontrar a mãe no regresso a casa.



Felizmente para elas, as minhas filhas ainda vivem no alheamento das tricas da vida política nacional que persiste em mostrar o triste espectáculo de termos um Presidente da República que se escuda no desconhecimento para assim aligeirar responsabilidades.
Agora vêem os jornalistas de serviço veicularem a novidade, apurada após investigação que, afinal, a informação sobre o urânio empobrecido chegou aos serviços da presidência mas, por culpa da NATO, é claro, que não terá dramatizado a coisa suficientemente, a documentação inerente não chegou a passar das gavetas dos assessores.

Isto não é uma anedota, devo advertir e qualquer semelhança entre a realidade e a ficção, terá sido mera coincidência.



E é engraçado como nestas últimas semanas, a Matilde passou a contar, muitas vezes espontaneamente, as actividades que desenvolve no jardim da escola. A singularidade está em que se refere especialmente a fichas e trabalhos com as tintas. Pois não é que a miúda mostra grande entusiasmo naquilo que faz? E de acordo com a observação da Educadora esforça-se por fazer bem o que normalmente consegue à primeira e sem grandes dificuldades.
De facto, o pai sente um calor no peito ao ver as colorações que ela faz em desenhos de que não transpõe os contornos.


E também é bom saber e verificar que ela é muito simpática e jovial.
A pedido dela, à hora do almoço, fui buscá-la para que dormisse a sesta em casa dos meus pais e satisfez-me presenciara satisfação como ela se despediu das empregadas e auxiliares e do senhor padre, com um beijinho a cada pessoa.



Damos graças a Deus por termos duas filhas tão bonitas.
Resta-nos tudo fazer para o merecermos.



Por sua vez a Margarida, de manhã, depois de uma cópia de palavras e frases, fez expressão plástica –o termo foi ela que o usou- no que realizou um vaso com uma flor segundo as técnicas da colagem. À tarde, foram duas fichas de Matemática cheias de exercícios a respeito do número seis.

E o trabalho de casa foi resolvido na companhia materna.



Bendito fim-de-semana.

Alhos Vedros
01/01/26
Luís F. de A. Gomes

2007-04-14


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ser pai também é sentir o carinho de aconchegar os anjinhos enquanto dormem, como o derradeiro acto de quem se deita em acto contínuo.



Hoje houve fichas de Matemática, duas, sobre o número seis que só terminaram no turno da tarde, mas de manhã também fizeram uma cópia.

E nada de trabalho para casa.



Dadas as melhoras da Luísa que desde ontem de manhã não tem febre, a Margarida, no regresso da escola, já trocou a casa da avó pelo seu espaço próprio e com a cereja que é a companhia da mãe.



Esta tarde parei o carro para ver, num céu cinzento, no horizonte do sapal, um bando enorme de gaivotas salpicando as cores de um arco-íris.



E a ventania continua a levantar as cortinas que deixaram o consulado de Miterrand sobre a boca do palco.
Agora é a vez de Roland Dumas ser acusado de envolvimentos pouco claros, se não mesmo ilícitos, em casos de tráfico de armas e influências.
São as ondas de choque do processo que arrasta o filho do ex-Presidente.

Não deixa é de ser engraçado verificarmos que onde estes personagens surgem, sempre aparecem as amantes e os palácios e a vida de corte.

Pour le peuple, bien sure.



E por cá continuamos no mundo dos Gouvarinhos e quejandos. Lá veio o Coelho dizer que não senhor, nunca o Presidente soube de nada no caso do urânio.

É esta a interpretação que os nossos dirigentes têm da responsabilidade, obviamente, na circunstância, política. Sejamos justos, no entanto, mais não se trata que o bem português abanar o capote.



Por contraste, da Jugoslávia, a juíza Del Sol regressou sem os mandatos de captura, mas trouxe na bagagem a recusa das autoridades de Belgrado –onde o novo governo foi empossado- de extraditarem Milosevic por crimes de guerra e contra a humanidade.

Continuo sem perceber se estamos perante o caminho para a democracia se na senda de uma qualquer nova forma de totalitarismo.



E Angola
chorosa de guerra
faminta de paz
assiste à tragédia do reforço do poder dos beligerantes.



A noite exala um bafo morno condizente com as calmarias que antecedem as fortes chuvadas.

Alhos Vedros
01/01/25
Luís F. de A. Gomes

2007-04-12


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O arquipélago das Galápagos, património natural e laboratório vivo, sofre, desde há dias, o flagelo de uma maré negra provocada pelo naufrágio de um petroleiro que, mesmo na cara da ilha de São Cristobal, derramou o petróleo que lhe ia nos contentores e que hoje já atingiu a linha de costa de outra ilha, a trinta e tal quilómetros do ponto de desgraça.
Há espécies únicas cuja ameaça de extinção pode encontrar aqui um forte impulso no tempo mais imediato, embora as consequências ou a gravidade das mesmas, se quisermos ser rigorosos, sejam difíceis de avaliar pois é sabido que o combustível fóssil pode eliminar certas algas e outros micro-organismos que formam a base das cadeias alimentares que, dessa forma, podem ser arrasadas implicando a migração ou até mesmo a morte de certas estirpes animais, tudo isto em processos mais ou menos morosos que podem durar muitos anos. Ainda se fazem sentir ondas de choque do desastre do Exon Waldez, no Alasca, se a memória me não engana, em mil novecentos oitenta e nove.
É uma tragédia o que está sucedendo naquela pátria de tartarugas gigantes e iguanas que, além do mais, ainda conta com o simbolismo de ter sido lá que Charles Darwin reuniu muitos elementos que, mais tarde, lhe serviram para imaginar as suas teorias da selecção natural das espécies.

As consciências ecológicas mobilizaram-se e há voluntários operando no salvamento de animais afectados e em dirimir as piores implicações da progressão da mancha poluente e, em tantos casos, letal.
Trinta anos depois das primeiras manifestações de rua, as preocupações com os problemas ecológicos são integrantes da idiossincrasia de algumas –ainda poucas- pessoas.


Mas quanto a mim mais uma vez fica à vista a inexistência de uma resposta adequada ao nível das Nações Unidas e da necessidade de se começar a falar e a propor um estado de direito para as relações internacionais entre os estados do planeta.
Indubitavelmente multifacetada, mas há que pensar numa civilização para a nossa casa comum pois corremos o risco de desaparecermos antes de sermos capazes de construir e possuir qualquer outra.

As minhas queridas filhas são educadas dentro desse princípio.


E numa coincidência triste, Joskua Fisher, o Ministro dos Estrangeiros da Alemanha e um dos fundadores do partido “Os Verdes”, está sob fogo cerrado de uma campanha para o desacreditar e, certamente, o levar à demissão e à prateleira política. Há um certo conservadorismo que jamais lhe perdoará o passado radical, sequer tendo em conta que ele interpretou a corrente que trouxe a revolta para o terreiro da institucionalidade, em oposição a outros jovens que vieram a dar corpo ao Exército Vermelho, de Andreas Baader e Ulrich Meinhof, que introduziu o terrorismo na agenda da sociedade alemã, depois da ressaca das lutas sociais que varreram a Europa na década de sessenta.



Jorge Sampaio interrompeu as férias para se reunir com o Primeiro-Ministro a quem puxará as orelhas por causa das inconfidências do Ministro da Defesa, segundo o qual o Presidente da República sabia das consequências do urânio empobrecido desde noventa e nove.
Espera-se a demissão do membro do Governo e a barraca ficará montada.

Vamos regressar aos tempos do primeiro mandato de Eanes? A nossa sorte é que a constituição e as diferentes circunstâncias já não deixam.



De manhã, os alunos realizaram uma ficha para o livro dinâmico em que construíram frases que, depois de lerem, copiaram para o caderno.
À tarde resolveram duas fichas de Matemática a respeito do número seis.

E lá tiveram mais um trabalho para casa.



Para já, o filho de Laurent Kabilá foi votado pelo parlamento, de braço no ar, como o sucessor dopai.

As armas estrangeiras estão dispostas a mantê-lo no poder.



Hoje estive com o Carlos e é claro que não deixei de lhe manifestar a admiração pela coragem que teve em enfrentar o Pinto da Costa da forma como o fez.



E depois de um dia de Sol
mais uma vez a chuva.

Alhos Vedros
01/01/24
Luís F. de A. Gomes

2007-04-11


Com esta foto terminamos a pequena série sobre a cidade de Weimer

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ritual que se segue à lavagem dos dentes, antes de deitar, são os dois comprimidos de zimafluor que tanto uma como a outra das minhas filhas tomam desde o ano e tal, altura em que o pediatra lhes dobrou a dose que mantinham desde os trªes meses de idade.


E depois disso o aconchegar dos lençóis e cobertores, em certos dias com uma última conversa ainda antes do adormecer e justamente com a canção de embalar que é um hábito que há muito a Matilde adquiriu e que a Margarida não teve.


E cai então a casa na quietude que só aos pais diz respeito.



A Margarida disse-me que gosta mais das palavras do que da Matemática, em sua opinião, um pouco mais complicada.
“-Eu prefiro a língua portuguesa porque aí vou descobrindo palavras novas. E eu gosto de aprender palavras novas e de fazer brincadeiras com as palavras.”

É claro que eu tento manter-lhe sempre acesa a chama das ciências. Não que lhe diga que tem que aprender, o que seria uma tontice. Mas procurando cativá-la ao aguçar-lhe a curiosidade.
“-Mas a matemática também é muito engraçada, a matemática também é uma espécie de brincadeira que se pode fazer, sabes?”


A Luísa é da opinião que ela já descobriu a aplicação e utilidade prática da leitura o que ainda não fez com os estudos a que chama Matemática.

E é capaz de ter razão.
De facto é engraçado ver a Margarida esforçar-se por aprender a ler e a escrever.
O certo é que ela já consegue decifrar muitos títulos de revistas e jornais, para não falar das confirmações que nos pede para as leituras que vai fazendo dos letreiros e outras coisas do género.


Só não sei é se o faz tanto pelo prazer de aprender como pela noção da responsabilidade de fazer o que deve ser feito para o atingir. Provavelmente por um misto de ambas as razões. Mas na verdade aquele meu anjinho cumpre religiosamente o exercício da leitura diária do livro dinâmico. E nunca precisa que lhe digam para resolver os trabalhos que traz para fazer.



E para aqueles –na maioria dos casos por puro snobismo- que chalaçam com os grécios e a política externa dirigida sobretudo para o estrangeiro, aí estão as primeiras medidas de alguém que sabe o que quer e não perde tempo com rodriguinhos filosóficos ou sociológicos.

George W. Bush começou por decretar uma moratória sobre as últimas medidas de Bill Clinton e já suspendeu todas as modificações que em matéria de questões como o aborto tinham sido introduzidas nos esquemas legais e institucionais nos últimos trinta anos e que tinham sido alvo da mesma bitola com Ronald Reagen a que, por sinal, o vencedor do pai Bush decidira pôr termo.

É este o princípio da aplicação do programa dos quatro cês, compaixão, confiança, cidadania e competitividade.

Não nos esqueçamos é que ele enquanto Governador do Texas nunca perdoou uma única condenação à morte.


Daqui a quatro ou oito anos ganhará um democrata, provavelmente em torno da defesa dos direitos e propondo, para os Estados Unidos um papel de potência paladina de uma civilização demo-liberal a nível planetário. E como a história está cheia de piruetas cheias de graça, se calhar até vai ter um músculo bem mais forte para o fazer em qualquer parte da Terra.



Hoje de manhã os alunos realizaram duas fichas de Matemática e depois procederam a uma cópia e leituras.
À tarde voltaram a fazer exercícios do livro de Matemática e trouxeram um trabalho para casa que, pela primeira vez, consistiu na elaboração de frases com o uso de determinadas palavras, o que ela fez sem o mínimo de dificuldades ou hesitações.



A Luísa decidiu-se a seguir o meu conselho e hoje de manhã foi ao médico que lhe diagnosticou uma gripe e a remeteu para casa até ao fim da semana.


Bem, pelo menos livra-se desta série de dias mais cinzentos.


Mas com o início do antibiótico o organismo começará a recuperação e amanhã, com certeza, apresentará melhoras.



E o mundo indiferente, continua cheio de sinais contraditórios, como o são o início dos inquéritos judiciais a Pinochet, no seu próprio país e a interferência que os militares tiveram na sucessão de Estrada, nas Filipinas, ao imporem uma mulher para a presidência. No Congo, a ocupação estrangeira reforça o seu poder e o regime do MPLA encontrará aí o terreno que precisa para se justificar, no que interessa aos lobbies que ali têm uma fonte inestimável de negócios.



Por cá permanecemos no cachimbo do ópio.

Fala-se na insegurança das escolas e esquecemos a bandalheira que tem produzido um sistema de ensino feito de fábricas para reter criancinhas enquanto os pais trabalham.

Ainda ontem, o fórum TSF foi sobre esse tema e o que nenhum dos nossos inteligentes consegue perceber –sequer repararam nisso, o que é pior- é que a Irlanda chame imigrantes portugueses a quem paga mais de duas centenas de contos mensais, enquanto nós acolhemos mão-de-obra quasi escrava para a construção civil.


Em países de anedota
só saleiros
e faladeiros
é que nos batem à porta.

Alhos Vedros
01/1/23
Luís F. de A. Gomes

2007-04-10



A casa de Goethe

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

PARABÉNS AVOZINHA
E lá passou mais um fim-de-semana que pela minha parte foi inteiramente dedicado a “Um Acto de Cidadania” pelo que o descanso se foi por um canudo. Mas fica a preia-mar da alma e ainda tive tempo de, já no estremunhar da noite, me distrair com uma entrevista de Miguel Vale de Almeida, na revista do “Diário de Notícias”.


E sobretudo tive o ensejo de aprender com tanta argúcia, como aquela que afirma que dizer-se “(…) que o racismo é o resultado da existência de raças é estar a sancioná-lo.” (1)
É engraçado. Mesmo que não se entenda se o que se pretende é compreender o fenómeno ou simplesmente observar-lhe a realidade –ou não realidade, como é o caso.
Talvez por isso é que o Conde Gobineau nunca definiu o conceito de raça. Mas não deixou de defender as raças puras. Seja como for, é claro que tal ideologia apareceria sempre, mesmo que não existissem quaisqueres diferenças quanto ao aspecto dos humanos. Pois é.
É óbvio que o conceito de raça é isso mesmo, um conceito que, por sinal, as mais recentes investigações nos domínios da Antropologia Física e na constelação científica que ali converge têm vindo a pôr em causa. Mas isso é a construção do conhecimento na actualidade e a génese do racismo está lá atrás. Hoje sabe-se que as diferenças acontecem no interior de uma mesma população e que não há forma de identificar os elementos físicos que permitam sustentar a noção em causa. Mas não há como negar que as diferenças são empiricamente observáveis –e cientificamente explicáveis- e que foram elas que levaram Gobineau a falar da degenerescência das raças.
Dizer que a noção de raça resulta do racismo é repetir uma evidência, mesmo admitindo, como o poderemos fazer, é claro, que sem aquela seria possível a este justificar-se através de um qualquer outro conceito aplicável ao outro. Afinal, o racismo começou sem um tal conceito. Nem mais.

Estranhamente, o entrevistado, num texto escrito, usa o conceito de raça para identificar grupos humanos.
Isto não é para rir, o homem é investigador, professor, claro que também é doutor na matéria e tudo a nível superior, pelo que a sapiência não pode ser questionada.

Pena que fique uma pergunta no bolso:
“-Então o que explica o racismo? Ou então o que explica que se tivesse chegado ao conceito de raça?”


O lusitano universitariamente correcto tem destas coisas.



Aposto que em breve assistiremos a um qualquer desafio de Saddam Hussein ao novo poder americano.

A resposta de uns dependerá da ousadia dos outros.
E não sei porquê, mas há qualquer coisa que me diz que será Israel a pagar as favas.

Duvido é que Saddam e acólitos sejam capazes de resistirem ao desejo cego de se vingarem.


E eu peço a Deus que tenha piedade de todos nós.



É tão enternecedor ver a vida florir.



Esta tarde só a Matilde quis ir à ginástica.

E eu só tive uma hora para o retrato de ser português que é –pelo menos até ao momento- o segundo volume das “Reflexões de um Burguês” de José Rodrigues Miguéis.



A Margarida parece ter recuperado dos aguaceiros que por aí possam ter andado.
Terminou o medicamento e todo este dia esteve bem disposta e cheia de vivacidade.

E o apetite voltou ao normal.



Hoje os alunos aprenderam uma palavra nova, mamã.

“-Estás a ouvir pai? Mamã, não foi mama.”
“-Então onde é que está a diferença.”
“-Oh pai, no til, claro!”

À tarde os alunos foram chamados a escreverem palavras no quadro.
E lá veio o trabalho para casa.



E agora vou fechar os olhos e deixar-me voar na imaginação de Verdi.



Ontem a minha mãe fez sessenta e sete anos de idade. Telefonei-lhe para os parabéns.
O mesmo fez aquela que a desmamou, como se repete desde sempre, e agora já com a bonita idade de oitenta e quatro anos.

Não é uma ternura?

__________
(1) Vale de Almeida, Miguel, p. 14
ENTREVISTA A FERNANDA CÂNCIO

Alhos Vedros
01/01/22
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Vale de Almeida, Miguel- ENTREVISTA A FERNANDA CÂNCIO
In “Notícias Magazine”, nº. 452 de 01/01/21

2007-04-09


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

AS PRIMEIRAS ANDORINHAS

E hoje só escrevo para assinalar a visita rotineira ao Dr. Clington, apesar de ter prescutado o estado febril da Margarida e de lhe ter medicado um especturante e antibiótico, se bem que tenha deixado claro que a situação é banal e tranquila; daqui a dias tudo terá passado.
No resto do dia estive fechado no escritório a tratar da impressão de “Um Acto de Cidadania” pelo que nada para dizer.
Mas há novidades antropométricas e é por isso que aqui estou, praticamente já na antecâmara do sono.

A Matilde ultrapassou o metro de altura, tem cento e dois centímetros e pesa vinte quilos e trezentos gramas.
A Margarida chegou ao metro e vinte e um centímetros e pesa vinte e quatro quilos.
Tanto uma como a outra estão bem de saúde pelo que uma nova consulta só deverá acontecer no fim da Primavera, antes do começo da época balnear.

Deus proteja as minhas filhas.



E ao entrarmos no carro demos conta das primeiras andorinhas.



No dia em que George W. Bush jurou a posse como Presidente dos Estados Unidos da América.

Alhos Vedros
01/01/20
Luís F. de A. Gomes

2007-04-08

CACAV - III BIENAL DE PINTURA

III BIENAL DE PINTURA
(Pequeno Formato)

Prémio Joaquim Afonso Madeira


Decorre até ao próximo dia 16 de Abril/2007, o prazo de entrega de trablhos para concorrerem à III BIENAL DE PINTURA - Prémio Joaquim Afonso Madeira.

Organização conjunta:
- CACAV- Coop. de Animação Cultural de Alhos Vedros
- Junta de Freguesia de Alhos Vedros
- Câmara Municipal da Moita

Esta Bienal de Pintura está aberta a todos os artistas nacionais e estrangeiros.
Cada Artista poderá concorrer com o máximo de dois trabalhos, com as dimensões de 33X24 cm.
A entrega dos trabalhos é feita na Junta de Freguesia de Alhos Vedros, no horário de atendimento, até às 17 horas de 2ª a 6ª Feira.

Prémios

Prémio Aquisição atribuído pela Câmara Municipal da Moita, no valor de 750 €, e a quem a obra premiada ficará a pertencer.

Prémio Revelação atrbuído pela Junta de Freguesia de Alhos Vedros, no valor de 250 €, a quem a obra ficará a pertencer.

EXPOSIÇÃO DOS TRABALHOS SELECCIONADOS E PREMIADOS

De 19 a 27 de Maio no Moinho de Maré de Alhos Vedros

Para mais informações contactar o telem. 932214015

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

AH VALENTE

Os portugueses ainda vivem demasiadamente próximos da tragédia.


Hoje de manhã, em Vinhais, perto das Caldas da Rainha, nas obras de um viaduto da auto-estrada entre Santarém e esta última Vila, perderam a vida quatro trabalhadores e mais de duas dezenas de outros ficaram feridos, alguns com gravidade, devido à queda da estrutura de suporte do tabuleiro em que, no momento do acidente, se procedia à operação de enchimento da placa. A ocorrência foi repentina e inesperada e, de acordo com as opiniões de populares das vizinhanças e do engenheiro que, no local e como responsável, acompanhava os trabalhos, os andaimes desabaram na sequência de uma cedência de terrenos. Segundo as palavras do técnico, para tanto pode ter contribuído a chuva abundante e consecutiva nos últimos dois meses.

Eu não percebo nada de engenharia pelo que não posso emitir juízos inevitavelmente falhos de fundamento.
Mas em face da justificação à posteriori, formula-se-me a pergunta se não seria possível prevenir estes desastres. É claro que as vozes autorizadas sublinharão que há imprevisíveis, não só pela via da mera lei do acaso, como ainda pelo facto de certos acontecimentos serem de todo opacos às hipóteses de previsibilidade. Como foi este o caso, certamente se apressarão a acrescentar. No entanto, continuo a pensar que sendo conhecidos os fenómenos de movimento de terras, não se deveria ter avaliado a resistência da estrutura de suporte e procurado saber se estaria adequada às eventuais alterações que a pluviosidade tivesse introduzido no solo? Será que todos os pormenores foram convenientemente analisados? Obviamente, nada poderei dizer sobre o projecto de construção propriamente dito.

À boa maneira portuguesa, os seguros pagarão as indemnizações e tratamentos, concluir-se-à pela acção do destino e os responsáveis da empresa continuarão idoneamente nos seus postos e, logicamente, a receberem as encomendas do estado..
Quem se recorda de um acidente do género na construção da ponte Vasco da Gama?


Aliás, se nos dermos ao humor negro, este é um episódio emblemático de um país que parece estar a desmoronar-se.
Ainda ontem ruíram uma série de prédios no Porto, aparentemente devido às obras do Metro e hoje deu-se um desabamento de terras sobre a via férrea que liga Coimbra à Covilhã.



Carlos Valente, um homem que eu conheço há muitos anos, tantos quantos aqueles que me separam das idadezinhas em que eu andava de calções e ele era o guarda-redes de uma das equipas da terra –por sinal aquela de que eu gostava mais- e que, além disso, é amigo dos meus pais e restante família, o Carlos, escrevia eu, veio a público denunciar a promiscuidade existente entre alguns membros do Conselho de Arbitragem e o indizível Pinto da Costa, o profissional do dirigismo clubístico e único denominador comum às duas décadas de supremacia do Futebol Clube do Porto sobre o universo do futebol português. Este, por sua vez, desmentiu que tivesse procurado a nomeação de um determinado árbitro e pergunta quem é o senhor Carlos Valente. Eu responderia que o António Garrido é que ele não é, com certeza, e depois diria tratar-se do melhor árbitro português de todos os tempos e não é por acaso que é o único nacional convidado para trabalhar com a FIFA. E também sei que é uma pessoa honesta que atingiu o topo à custa do seu esforço e dedicação, com o acréscimo de nunca ter abandonado a modéstia, pelo que em tudo é alguém que serve de exemplo a seguir e é precisamente por isso que sofre os remoques de alguém como Pinto da Costa, o homem que entrou para as direcções pela porta do boxe.

Direi ainda que é precisa coragem –física, não tenham a menor dúvida disso- para dizer o que ele disse do Presidente do Porto a quem maires e ministros obedeceram. Suspeito é que não terá mais microfones públicos e quanto a cargos o tempo o dirá.


Neste país em que a terra se desprende
a justiça, ninguém a entende.



A Margarida ficou em casa e parece que lhe fez bem. Ao fim do dia, dava mostras de boa disposição e ânimo para a brincadeira.



Eu é que chego em papas ao fim de uma semana endiabrada de trabalho.



Passou o último dia de Bill Clinton com Presidente dos Estados Unidos da América, o homem que, na despedida, disse jamais considerar qualquer outro título superior ao de cidadão.
Do ponto de vista americano o balanço é positivo. O país continente está mais pujante que nunca e não se vislumbra no horizonte nenhuma outra super-potência que lhe possa disputar a supremacia militar. É verdade que a sociedade permanece mazelada por milhões e milhões de miseráveis, mas também não é menos verdade que muitos novos postos de trabalho foram criados e a violência e a insegurança sofreram curvas descendentes em algumas cidades. E ao nível do poder retomou-se o precedente de Franklyn Roosevelt de trazer os pobres para as preocupações do discurso político.

Talvez seja de lamentar que à sua faceta mais idealista não lhe tenham permitido afirmar, com mais veemência, a defesa de certos valores universais da humanidade, no que poderia ter sido um impulso para que se criasse um clima de estado de direito de âmbito mundial.
Mas é precisamente esse idealismo com que se despediu da nação que deixa uma janela aberta para que se possa evoluir para esse patamar de entendimento entre os povos, o único em que um qualquer futuro de viabilidade da nossa espécie terá que assentar, pois já dominamos tecnologias militares capazes de destruírem a vida tal como a conhecemos.

Não tenho dúvidas que o mais jovem ex-Presidente da bicentenária história daquela sempre república, terá o agrado da maioria dos americanos na hora do adeus. Ele que personifica o american dream de quem chegou ao alto em mar adverso e que, curiosamente, teve como última Secretária de Estado uma imigrante.


É claro que os poderes cultos continuam a impor as atitudes imperiais que desdenham os tratados sobre o ambiente ou armamentos ou que levam a uniteralidades sem fundamentos exteriores ao egoísmo. Acontece é que isso faz parte da luta que actualmente se trava pela democracia em todo o mundo e, ainda que vergado e humilhado, the young and idealistic Bill teve a vontade de lhes fazer frente, o que não deixa de ser qualquer coisa.



No fim, o balanço tem sinal mais.


And God bless America.



E nas Filipinas, o Presidente eleito deverá resignar ao cargo depois de provados actos de corrupção e de todos os apoios lhe terem sido retirados.


É a China Popular que anda a ensaiar voos tripulados no espaço que ganha cada vez mais com a adaptação dos investimentos estrangeiros que a estabilidade política e social lhe permitem.



A Luísa regressou a casa com sintoma de gripe.

Andam fluidos negativos no ar.
Longe vá o agoiro.

Alhos Vedros
01/09/19
Luís F. de A. Gomes